Marguerite Duras

Mais uma escritora que eu considero femininíssima. Quem leu “O Amante”, sabe, quem não, vai conseguir visualizar facilmente nas falas dela transcritas abaixo:

“Devia existir uma escritura do não escrito. Um dia existirá.” (p. 73)

Nasceu Marguerite Donnadieu (Gia Dinh, Vietnã, 04/ 04/ 1914- Paris, 03/ 03/ 1995) e adotou o sobrenome Duras, por causa de uma vila na cidade Lot- et- Garrone na França, terra natal do seu pai.

               

                  

“Escrever”é um ensaio onde a escritora usa a narrativa poética, confessional, psicológica para expôr suas percepções e vivências acerca do ato de escrever. Nesta obra, que alcançou o primeiro lugar da lista dos livros mais vendidos na França, Marguerite Duras fala do seu trabalho e dos seus amores, da solidão e dos medos da infância, da morte e da injustiça. No seu estilo particular, entre cortado de hesitações e arrebatamentos apaixonados, a escritora pela primeira vez se revela por inteiro, na sua tenacidade e na sua doçura.

Ela fala dos amantes que teve e afirma que jamais mentiu na sua vida e nem nos seus livros, exceto para os homens, como se mentir para eles fosse algo sacramentado, livre de “pecado” ou impossível de evitar:

Nunca menti num livro. Nem em minha vida. Exceto aos homens. (p. 35)

O livro está dividido em 5 capítulos: “Escrever”, “A morte do jovem aviador inglês”, “Roma”, “O número um” e “A exposição da pintura”. A motivação do livro foi a história de um aviador que morreu aos 20 anos abatido pelos alemães justo no dia da paz. Essa história parece que marcou mesmo a escritora, ela contou com muita dor, certas passagens lembraram muito Clarice Lispector:

A morte de qualquer um é a morte inteira. Qualquer um é todo mundo. (p. 67)

O primeiro capítulo, “Escrever”, é o mais interessante, ela solta frases muito dessas que nos fazem refletir; também revela seus hábitos diários de escritura (sempre pelas manhãs, mas não tinha hora fixa) fala sua solidão e alcoolismo na sua casa de Neauphle- le- Château:

Quando eu dormia, cobria o rosto. Tinha medo de mim. Não sei como, não sei porquê. E por isso bebia álcool antes de dormir. Para esquecer- me de mim.” (p. 25)

Várias passagens desse livro me recordaram “A paixão segundo G.H.”. Clarice achava que a escritura salvava; Marguerite, também.

“Se eu não tivesse escrito teria me transformado numa alcoólatra sem cura.” (p. 26)

Duras falou nesse livro da morte de uma mosca; Clarice, na de uma barata. Clarice inaugurou no Brasil a narrativa psicológica, Duras já escrevia assim na França. Não creio que sejam meras coincidências, Clarice deve ter lido Marguerite:

“A mosca havia morrido.” (p. 45)

Eu praticamente reproduziria o I capítulo inteiro aqui para mostrar as semelhanças entre as duas escritoras. Confesso que fiquei algo decepcionada, até então achava “A paixão segundo G.H.”, um dos livros mais originais que havia lido.

Ainda que chorar seja inútil, creio que, contudo, é necessário chorar. Porque o desespero é tangível. A recordação do desespero permanece. Às vezes mata.” (p- 54)

Duras, Marguerite. Escribir. Tusquets, Barcelona, 2009. Preço: 6, 60 euros, Fnac.

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